segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

véu

Que de amores sempre caias,
tudo recompensa a dor.
Como o vento insufla as saias
tu me inspiras ao amor...

roseiral

Nada daquilo que existe
- do arrebol ao arco-íris -
ao teu encanto resiste.
Tudo é para conseguires.

aquarela

Lindo e belo arco-íris,
me recordas meu amor:
"Tudo é para conseguires,
não importa aonde eu for..."

esmeralda

Ai, Pedaço de Ciúme.
Como pode tanto lume?
Como fui ter tanta sorte?
És tão fora do costume...

Brilho. Brilho.
Muito brilho.
Teu olhar é meu gatilho.
Dele não me desvencilho
quero ser-lhe o andarilho...

terra à vista

Vem, pirata tão mansinho,
me desdobra de carinho.
Vem matar minha charada
de manso não teres nada...

sábado, 26 de janeiro de 2013

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

terra libera

Quando eu for tupiniquim
em longe terra fronteiriça
tu vais ser o meu quindim,
tudo aquilo que me atiça.

Quando eu for tupinambá
no solo da Coca-Cola
tu vais ser meu baobá
meu macio colchão de mola.

E eu vou te querer ardente
como no primeiro olhar
em que o sol tão de repente
passou a nos habitar

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

'click'

Então o menino canhoto
com o sorriso bem maroto
disse-me: "Se o mundo é roto
temos que ser-lhe o piloto."

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

la colombe / "no coração de Deus"

se crês que a paz te pertence
mas já não a encontras mais
te ofereço que repenses:
tu que pertences à paz.


remota maré

"Tua alma de esmeralda
o meu corpo incendeia.
Te ofereço minha cauda:
ela vai ser tua ceia."

Pirata marujo almeja
os encantos da sereia.
Os seus lábios de cereja,
seu riso que chicoteia.

E este corpo tão risonho
o pirata esfaqueia.
O que é belo vira sonho
estendido na areia.

O que o pirata deseja
desta mulher Peixe arisca?
Que ela diga enquanto beija:
"Quero ser tudo que pisca".

E depois que a maré baixa
e de novo a lua é cheia
Sonho no sonho se encaixa
alma em alma serpenteia.

adoçante

Não me venhas com amor
que estou cheio de desejo.
A não ser que esse ardor
venha com a cor do beijo.

de pluma

Um pássaro disse a outro
o que eu sou quando te fito:
"Como o vento voa solto
eu te quero ao infinito..."

lanterna

teu olhar é meu descanso
é só nele que eu me amanso
com você eu me balanço
com você eu nunca canso

fragmento de um cortejo

O uso pleno da segunda pessoa do singular,
no tratamento e na literatura, é a coisa mais erótica que existe.
"Podes tu ter a certeza
de que és volúpia pura".

licor e licorne

"sou um beberrum,
das palavras
           enxugo o licor.
e esse ardor
           não tem mais fim,
esse rum não seca em mim"

Miguel

"a paz não me pertence
sou eu que pertenço à paz"

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

chove no Paraná

cada folha orvalhada
cata gota de floresta
deixa minha alma molhada
faz meu corpo virar festa

Pacífico

Em cada porto em que ancorar
no alto-mar eu vou estar.

A bombordo
sou gaivota.

A estibordo
maremota.

Sou maré e sou remota.

Estou distante
e estou lontante.
Maresia mergulhante.

Sou âncora e sou timão,
sou cruz e coração.

Navegando e naufragando e em tua rara luz entrando.

follow the Yellow Brick Road

Já dizia o Poeta:
se eu quiser falar com Deus,
vou ter que me recolher,
"bonita que nem Mateus".

Vai ser uma despedida
sem indícios de Adeus.
Numa velha nova vida
vou me unir de volta aos meus.

A Grande Transfiguração

Esta gata siamesa
enrodilhada ao meu colo
É do almoço a sobremesa
para as plantas é o solo.

É uma flor.
E me convida.
Rumo a uma nova vida.
Se esta gata tem beleza...
É porque o amor tem pureza.

folha por folha

É assim que a chuva faz
quando se deita ao capim:
misturada em meio à grama
não encontra mais seu fim.

É assim que me transformas
quando deitas sobre mim:
como a chuva rega a grama
tu me tornas alecrim...

gota por gota

Assim como a chuva
traz a vida ao capim,
por cima de mim te deitas
e me tornas alecrim.

Assim como a chuva cai
devolvendo a vida à flor,
é assim que tu transformas
o meu corpo em amor.

Tu és a chuva que deita
e eu sou o teu capim.
Misturados pela relva
de nós dois não termos fim.

estorninho

Viver para sentir
a magia promíscua
da palavra Almíscar.

Alquimia
açucarada.
Imiscuída,
mascarada.

Conspícua
e arisca,
prostituída
a letra pisca.

sal, estrela

Quando eu te voltar a ver
eu não sei mais quem vou ser.

Talvez seja uma gaivota
quando me mostrar devota.

Talvez seja um albatroz
quando ficarmos a sós.

Ou quem sabe um chafariz
se me apertas os quadris.

Ou um enorme arranha-céu
quando eu destilar meu mel...

Talvez seja alecrim
quando deitada ao capim.
(Sobre o qual a chuva deita
quando deitas sobre mim.)

mormaço

"Sou solito, solecito."
Sinto-me um pouco sozinho.
Quero ver um sol de Amor
estalar no meu caminho.

Grande, belo e generoso.
Em cada raio está meu ninho.
Me ensolara
Me enluara
me bronzeia de carinho.

para um anjo

Esta ameixa tem o gosto
de minha vida com vovó.
A cada mordida nova
eu me sinto menos só.

a sete chaves

Sou casada com a rima,
afetada sou.
Amante incestuosa
daquele que me casou.

Já não finjo, ai,
o Verbo é meu pai.

amêndoa

Então já abriu o sol,
coração abriu também.

Este raio que me atinge
me faz te querer tão bem.

Estou quente de uma febre
a qual não sei viver sem.

O raio me atinge em cheio
até o ponto de cegar.

Já estou ardendo em febre
e não quero me curar.

anéis

Ó menino
saturnino,
já não toca mais o sino.
Costumavas ser meu hino,
o meu doce paladino...
Que aconteceu contigo?!
(ou será que foi comigo?...)
Não exalas mais perigo,
já não peço por castigo.
Deixa estar, profundamente:
encontrei um ombro-abrigo...



"é beleza demais para que o suporte meu pequeno coração"

Quero um amor
escrito em letras medievais.
Conseguir me contentar
com o que aporta aqui no cais.

Esta sede não me larga:
"Quero mais... Quero mais..."

Em meio aos canaviais
sussurram-me, pé do ouvido,
teus instintos mais carnais.