sábado, 30 de março de 2013

crepuscular

E será que num rompante
te aprouveu, sem mais, dizer:
"Sê bem vinda, lua arfante!
Boa tarde, anoitecer"?

Se o que eu digo sempre geme
ante o teu anoitecer,
vou tecer algo que treme,
criar-te um anoitrecer.

Sê bem vinda, lua nova.
Te convido a renascer.
Seja meu o teu regaço.
Enche-me de bem-querer.

Será que no mesmo instante
não terás tu dito assim?:

"Bom dia, noite chamuscante!
Tens que cheiro de alecrim!
Ó que tenhas um bom dia,
flamejante amor marfim!
E que tragas boas novas.
Chega antes do teu fim!"

O dia à dor se parece:
entardece, entristecer.
Cessa a dor, à rosa aquece.
Como é cedo fenecer!

pedaço de nome

murcha a rosa,
vive o cheiro.

ah, ser sempre majestade!
sempre estar a fenecer
e acordar sempre em janeiro!


quarta-feira, 27 de março de 2013

farolando

Muitas voltas circundantes
           tivemos que completar.
Até entrar no objetivo
e chegar ao núcleo:
amar.
Muitos morros trepidantes
nós tivemos
que
galgar.
Separar espinho e pedra
de flor
a de
sa
bro
char.

Temos tantos marolejos
quantas ondas tem o mar.

segunda-feira, 25 de março de 2013

prolonga-se o verde

Como a planta vai crescendo
rumo ao extremo sol do mundo,
amar-te vai me alongando
rumo ao que há de mais fecundo.

Botão de flor que se espicha
pra espiar os céu profundos,
como podem minhas raízes
se nutrirem de segundos?

Sou uma folha espalmada
à mercê da identidade.
Prestes a ser tinturada
com o verde da tua verdade.

Amar-te é tão maciço!

o uivo dos navegantes

I.
Sei que sete são meus pais,
sou a neta de Netuno.
Quando aporto aqui no cais
voltas a te sentir uno.

O que podes querer mais
que uma sereia sem cauda?
Não vejo por que te vais...
A quem dás tua esmeralda...

Sei por certo a quem não dás,
com meu pranto o mar salguei.
Se não estás, diz, que me importa
ir a desposar o rei?


II.
Sete amos são teus pais,
bela neta de Netuno.
Quando chegas ao meu cais
com o mar eu me reúno.

O que posso querer mais,
mais além da tua cauda?
Nunca sei por que te vais...
Quem tem tua cereja em calda...

E por que não dá-la a mim?
Meu pesar o mar salgou!...
Por teus lábios de carmim
meu desejo naufragou...

enfim, infante

Você
é a minha nova quebrada
A coisa mais delicada
que até hoje eu já vi

Você
é meu mais novo delírio
a sua boca é meu martírio
pelo qual quero morrer

Vem
vem me dar a sua boca
que a vontade não é pouca
de junto a ti derreter

Vem
faz pra mim essa toada
que quando for madrugada
a vida vai ser maior

És
minha orquídea machucada
cultivada pela fada
ensinada a amar de cor

lutador

Quando vens e me fitas
com teus olhos de samurai,

dentro de mim algo despenca
amorosamente cai.


corre grande risco

"Eu te vi em meus rabiscos,
te sonhei em melodia.
Quero correr tantos riscos
quantas cores tem o dia.

Então fica combinado,
vem esquecer o passado.
Ao eterno estou fadado
antes de ter te encontrado..."

vaticínio

És meu sopro de verdade,
o que o mar me prometeu.
Meu pedaço de vontade
que o oceano devolveu.

Na distante maresia
algo se desescondeu.
Encomendei: "Maré fria,
traz de volta o que era meu."

És meu sopro de aventura,
minha fada machucada.
Minha caixa de ternura
de textura amendoada.

quinta-feira, 21 de março de 2013

developper

Vem à baila, bailarina
e toda me contamina.
Para sempre, totalmente
vem cá ser a minha sina!

doa a quem doar

A tua amêndoa me abençoa
e sei que é para o meu bem.
Por mais que em mim o Amém doa
soa bem, me leva além.

acastanhado

Tens um jeito amendoado
de avelã e de maçã.
Gosto de algo que começa
e é sempre de manhã.

Quanto menos tu tens pressa
em acalmar o meu afã
mais sossega-se a promessa
de a vida ser amanhã...

(Vem o amor, me prega peça
dá a meu frio a melhor lã.)

o matiz da meretriz

Tens, amor, um nome verde
como a cor de um bem-te-vi.
Como toda a minha vida
depois que te conheci...

Quero usar vestido verde,
me tornar tua esmeralda.
Tocar flauta em notas verdes
que sou tua cereja em calda...

Como lanterna chinesa,
natural da cor da cana,
minha vida está acesa,
verde folha jamaicana.





verde-gris

Vem pirata cor de céu,
céu que acaba de chover.
Vem ver como o teu orvalho
fez-me toda renascer!

Vem ver como o encanto,
quando chega, não desfaz.
Vem viver como as palavras
não acabam nunca mais!

Não existe mais perigo,
ficou só o arrepio.
O que é doce achou abrigo,
minha alma entrou no cio...

terça-feira, 19 de março de 2013

por ser belo, por ser lindo
e porque nos faz chorar:
homenagem a Vinicius,
mestre do tempero amar.


São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua