sábado, 18 de maio de 2013

carolinda

I.
Vi então uma menina.
Sua cor era: que linda.
Vejo-a tão peregrina
e tristemente me enrisonho.

Ponho-me a pensar que ainda
seu cabelo é cor de sonho...

"Queria pegar-te ao colo,
levar-te a ver o mar.
Sem podê-lo, me consolo
imaginando-te chorar."


II.
"Que é que aconteceu contigo,
que não rimas, que não choras?
Te esqueceste que um amigo
abranda-te o passar das horas?

Se tu escreves, tu te moves
rumo a um elevado andar.
Quero que tu te renoves
vejas que escrever é orar.

Então orarei por ti,
minha primeira comunhão.
Sei que não fui batizada
mas te quero dar a mão.

Une-te a mim pelos versos,
levantaremos do chão."

sexta-feira, 17 de maio de 2013

No vestido dos teus mares

Ler-te o mundo, agora nova,
lembra o gosto do mamão.
Lembra ser flor contra a luz,
filha em desobrigação.

Ler-te novo, mundo velho,
tem um timbre de descanso!
Ora rouco,
ora manso...
Como aqueles que ressoam
no interior de Notre-Dame.

Muito grata sou às asas
que sem saber tu me deste.
Com elas urdi minha veste

veste de filha do mundo.
O belo mar das palavras
é de longe o mais fecundo.

superfície

Quantos de vós,
ó seres difusos
cabem n´um meu respirar?
Deus meu pai, como é confuso
respirar fora do mar!

diamante peregrino

Samuel, meu andarilho...
Estarei te esperando
até que entres no trilho.

Até o dia que enfim chegues
dentro do meu estribilho

e em troca me presenteies
com a estranheza do teu brilho,

nos estamos esperando.
Que eu te possa me ajudar,
voltar a viver brilhando.

ancorando

Que engraçado ir te encontrar
vestida de ver o mar.
Tu com cara de esperar
que eu não te venha a lembrar!

Obrigada, parabéns.
Bom saber que tu me tens.

Nem tanto ao mar...
Sim, por certo.
Terra à vista
é estar mais perto.

"todas estas pegadas eu já conheço"

Momento particular de fazer milagre:
deitar na grama e
ficar olhando para aquela lanterna da alma,
esquecida acesa lá no céu.
Toda marcas de sapatos
porém branca como véu.

o bom pai

Ai que belo é o país
desta Língua Portuguesa!
Tantas formas e raízes
Normas, rimas, diretrizes...
Nele estão tantos matizes
quanto os têm a água fria.

Desamarrou-lhe as barreiras
Esmigalhou-lhe as fronteiras
este seco fresco vento
que se chama poesia.

nem tanto ao mar

- "Diz-me, que te foi deixando
dura e encruada assim?
Eras crua, hoje és nua
Nua de interesse em mim...

- Não sejas tão complacente.
Assusta o que muito sente!"

Sinto que és como a maré
à mercê da tempestade.
Deixas que te invada o vento
infiel da minha vontade.

E que se te evada o alento
frente ao frio da minha verdade...
Perdes um pedaço cada
vez que apraz-me não ser fada.

As tuas luzes já não piscam
dentro da minha cidade...

E a flor do meu desejo
se apequena, vai murchando.
Se enraíza firme à terra
do não deixar esperando.