segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

homo femina

No meio do dia se ouve uma queixa.
No meio da sala da tarde que arde.
E surge uma moça dos lábios de ameixa
Dizendo que a dor se guardou pra mais tarde.

Dizia baixinho
sem fazer alarde:
"Não me deixa...
Não me deixa..."

A moça dos lábios
com a cor da tarde.

No sol deste dia que já vira pó,
"Não quero estar só,
não quero estar só..."

E de dentro do recinto
Através de um fino muro
Eis que escuto, num apuro,
quebradiça voz de vidro...

"Me tira já daqui!
Presa em fêmea, sou menino.
Expurgada para sempre
do Universo Masculino.

Exilada no espelho
do Banheiro Feminino.

No fricote, na frescura.
No decote e na amargura.
Prisioneira indefesa
do País da Formosura."


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